quarta-feira, 21 de julho de 2010

IDEB, ENEM e Educação no Brasil

Há 5 meses atrás, início do ano letivo, precisando aliviar um pouco minha biblioteca, resolvi doar uma série de livros didáticos de Física que quase não usava mais. Alguns zerados, no plástico! Selecionei algo como 4 pilhas de livros com uns 50 cm de altura. Doar para quem, ou para onde? Bem, nada melhor do que para uma biblioteca, onde poderiam ser utilizados por várias pessoas. E, entre as bibliotecas, qual? De uma ONG, das escolas onde trabalho, da escolinha que tem lá perto da minha casa, na roça? Resolvi doar para uma escola estadual, de preferência perto da minha casa em BH. Há várias. Escolhi uma ao acaso. Carreguei o carro e saí de casa uma noite por volta das 19h30min, horário em que eu sabia que o Ensino Médio noturno estaria funcionando. E lá fui...

Bati humildemente à entrada e me atendeu uma porteira. Expliquei-lhe a situação: queria doar livros à biblioteca, sou professor e tudo o mais. Ela pareceu-me completamente surpresa! Custou a entender! Quando caiu a ficha, finalmente, pediu-me para aguardar enquanto iria avisar à diretora. Voltou logo a seguir, abriu o portão e avisou:

_ Entre logo que preciso fechar! Esses meninos, cê sabe né! São impossíveis! Trancou seu carro?

Indicou-me uma sala onde encontrei a diretora. Esta mal me recebeu. Sequer saiu da sala onde estava, vendo-me pela porta aberta. Olhou-me como um ser estranho (um doador de livros, mas que exótico! - deve ter pensado!) e ordenou duas coisas: que os livros fossem deixados na biblioteca e que a porteira indicasse alguns alunos para me ajudar a carregá-los.

_Fulano, cicrano, ajuda esse moço aqui a pegar uns livros no carro e deixar na biblioteca!

Três voluntários que passeavam tranquilamente pelo pátio (havia vários alunos circulando à toa, em pleno horário de aula) se apresentaram, sem reclamar e ao mesmo tempo sem demonstrar o menor interesse. Foram comigo até meu carro e carregamos cada um uma pilha de livros até a tal “biblioteca”.

Como eu fui o último a chegar, pois tive que trancar o carro, seguindo o bom conselho da porteira, não sabia onde deixar os livros. Não havia nenhum funcionário na biblioteca. Notei que os alunos tinham largado suas respectivas pilhas a esmo. Fiz o mesmo... Na “biblioteca” também não havia uma única estante visível! Nada além de grandes mesas com cadeiras à volta, sobre as quais pilhas de livros novinhos, empacotados como kits, destes distribuídos gratuitamente no início do ano para os alunos de escolas públicas. Concluí: ou os livros estão todos guardados em outro lugar, o que acho difícil, ou simplesmente meus livros serão os únicos desta tal “biblioteca”! Afinal, os tais kits seriam entregues aos alunos! Restariam as mesas, as cadeiras vazias, as paredes nuas e... Meus livros, talvez...

Percebi que tinha feito uma péssima escolha! Tivesse eu levado os livros e doado a outra biblioteca seriam muito mais úteis! Agora, já era! Mas, tive certeza de que eles também não iriam ficar ali... Não havia mais nenhum, uai! Ou algum professor se interessaria por eles e os levaria, e faria muito bem, ou a diretora os doaria novamente a algum aluno que manifestasse alguma vontade de tê-los ou qualquer outra coisa assim.

O aspecto da escola, em geral, era dos piores possíveis! A alvenaria desgastada por décadas provavelmente sem nenhuma reforma, carteiras e quadros negros em péssimo estado, tudo muito feio e desalentador! Vista de fora, quando eu passava em frente, não parecia tão ruim. Alunos andando e conversando livremente, como se fosse a praça de alimentação de um shopping, nada lembrava o ambiente escolar a que estou acostumado. Na rede particular, onde trabalho há décadas, é bem diferente! Mesmo à noite.

A única que me agradeceu foi a porteira, ao cerrar a porta de ferro e trancar o enorme cadeado quando passei. Agradeci-lhe também a presteza e atenção que me dispensou! Nem os alunos que carregaram os livros tampouco a diretora o fizeram. Recentemente, conferi no ranking do ENEM a posição desta escola, que fica dentro de Belo Horizonte: está classificada aproximadamente em 21.000º lugar! Entre as cerca de 24.000 cujas notas foram publicadas. Ou seja, está entre as últimas, abaixo da média!

Lembrei-me deste caso agora por causa da divulgação do IDEB, ocorrida nestes dias.  Baixe as planilhas no link anterior e verifique você mesmo! Vamos aos números. As médias são em 10.




Algumas constatações óbvias:

a)    A Rede Privada é melhor que a Pública em todos os níveis. Verdade, em média, é sim. Porém, como o ranking do IDEB das particulares não é divulgado, certamente há muita escola pública muito melhor que muitas particulares. CEFETs, IFs, Colégios de Aplicação (das Federais) são só alguns exemplos. E, mais, quando os dados das particulares são separados no PISA, elas também deixam a desejar comparadas a outros países. Ou, como se vê nos dados do próprio IDEB, algumas particulares pioraram nos últimos anos! Enfim, particulares, em média, são melhores, o que não quer dizer que estejam boas. Para nós, mineiros, a alegria de termos as melhores escolas particulares do Brasil! Seria importante resolver os problemas técnicos que impedem a divulgação do IDEB das particulares. Afinal, o ideal é toda a transparência possível, como o ranking do ENEM. E note que as particulares (privadas) também estão abaixo da meta 6 tanto de 5ª a 8ª como no Ensino Médio.

b)    A qualidade do ensino piora com o avanço das séries. Faço ideia do que ocorre em algumas faculdades particulares por aí... Aliás, já trabalhei in loco. Veja o mau exemplo da USP, que é tida como de excelência!

c)    No IDEB, o Ensino Médio é de longe o pior! Sei disto: lecionei e leciono sempre no Médio! E, posso afirmar: desde que comecei, jamais vi melhoras ao longo dos anos! Pelo contrário, minha impressão é de que piora, a cada ano! Já escrevi sobre isto: o Médio, como está, é completamente anacrônico e improdutivo! Observe ao fim da Matriz de Habilidades do Novo ENEM o conteúdo programático definido pelo MEC. Particularmente, veja as Ciências da Natureza. Sem brincadeira, se todo aluno que se forma soubesse realmente tudo o que está ali seriam todos eles potenciais cientistas! E ainda faltam muitos penduricalhos, cobrados por alguns vestibulares mais anacrônicos ainda, como o ITA e IME!

O Ensino Médio atual anda completamente fora da realidade, tanto da realidade da vida dos alunos quanto da realidade pedagógica adotada no mundo! Uma montanha de conteúdo completamente acadêmico, cumprida a duras penas por todos nós, professores, para um aprendizado pífio, como as notas provam! E não é só o IDEB! Veja o PISA, ou o ranking da Unesco: estamos mal em todos! Se quiser se embrenhar pelos dados completos, toma aí, vai fundo! OECD e UNESCO.

Reconheço e sei que houve avanços nos últimos anos. Eu mesmo nunca cogitaria prestar concurso para o CEFET/MG com o salário de antes. Veja um balanço positivo que o Ministro Fernando Haddad faz de sua gestão. Mas, a realidade da Educação no Brasil ainda é muito dura!

Tivemos o caso das greves bastante noticiadas na imprensa, em Minas e em São Paulo, este ano. Aqui, em Minas, a principal reivindicação era um piso salarial de R$1.312,85 . Façamos algumas comparações...

Salário inicial na Polícia Militar de Minas: R$1.614,00, com Ensino Médio. Ou, concurso para gari (lixeiro) no Rio, ano passado, com salário + ticket refeição = R$724,00 . Neste, houve candidatos que declararam Doutorado quando o nível de conhecimento era Fundamental! Mau negócio? Depende do ponto de vista... Veja quanto ganha um Mestre na rede estadual de Minas: R$356,82. Assista o vídeo do link! Trabalhando muito outra professora estadual mostra no vídeo: menos de R$800,00 no contra cheque. Enquanto isto, o congresso andou discutindo, em dias recentes, o piso salarial de policiais e bombeiros: R$3.500,00 para iniciantes e R$7.000,00 para oficiais. Nada contra. Pelo contrário, acho que o setor de segurança pública deve pagar bons salários, sim! O exemplo é apenas para mostrar quais são as prioridades da sociedade brasileira. A lei acabou aprovada sem definir um valor. Já a discussão para o piso dos professores gira em torno de R$1.024,00. Lembrando que, na prática, vários estados pagam muito menos! Como provam os contra cheques! E alguns estados foram contra: entraram na justiça para não pagar nem este piso!

O que mais ouço na mídia, inclusive de membros do governo, do MEC, é a tal “capacitação do professor”. Ora bolas, eu mesmo já visitei escolas na roça brava e vi salas de aula onde professores apenas com Ensino Médio lecionavam para 1ª, 2ª, 3ª e 4ª Séries do Fundamental e, pasme, simultaneamente! Isto numa tapera de barro, de um cômodo e sem banheiro! Realmente, há que capacitar, e melhorar a infra-estrutura. Ninguém duvida disso. Mas vir com esta de que o principal problema da Educação, no Brasil, é capacitação de professores é uma falácia! Uma mentira, que serve a vários propósitos, menos ajudar a resolver o real problema!

Recentemente, li no Twitter frase atribuída ao Senador Cristován Buarque, ardente defensor da Educação. Segundo ele, de fato é estranhíssimo que o Brasil fique triste por perder uma Copa estando entre os 8 melhores do mundo. Isto quando não há a menor tristeza quando a UNESCO nos coloca em 88º lugar em Educação! Atrás de países como Líbano, Equador, Bolívia, Honduras, Paraguai... Ave Maria! É muito triste! Não há a menor razão ou justificativas para que um país com nosso PIB, do nosso tamanho, esteja nestas condições! Mas, embora não deveríamos, há sim explicações para termos chegado onde estamos agora.

A principal, ao que me parece, foram décadas e décadas de descaso total. Lembrei-me do causo com o qual comecei esta postagem por causa disto: a escola para a qual doei meus livros é o exemplo típico deste descaso completo! E o que vi é prova contundente: péssima infra-estrutura, profissionais mal remunerados e alunos completamente desinteressados. Não me venham com esta de culpa do professor, porque não passa de desculpa esfarrapada de político incompetente e descompromissado, discurso com amplo apoio na mídia, infelizmente. Enquanto durante anos assisti a campanhas políticas com anúncios e promessas de obras e mais obras, investimento sério, eficiente e consistente em educação pública, ah, isso não vi, desde que nasci! Agora, muito ultimamente, e de forma ainda tímida, tenho visto (algumas) melhoras. Mas ainda falta muito!

O grande problema da Educação no Brasil é dinheiro, mesmo! Investimento, em grande escala, a longo prazo, com eficiência, que gere bons resultados. É isto! O resto é balela! É o que mostra esta simples pesquisa da UFF. Veja o quadro.


Note que gastar muito não é sinônimo de gastar bem. O Japão e o EUA, como se vê, gastam mais que a Finlândia em Paridade do Poder de Compra (PPC), e a última ficou em 1º no PISA 2006 (EUA em 29º). Porém, o Brasil gasta menos que o México, que o Chile, mais de 4 vezes menos que a Alemanha, quase 4 vezes menos que a Finlândia por aluno! Em dólar, a diferença é ainda maior! Aí, fica difícil, mesmo...

Veja a próxima tabela, do Ensino Médio. Esta é ainda mais esclarecedora!


Comparando em dólar, o setor público da Finlândia gasta US$10.300,00, o Japão US$10.500,00 e o Brasil US$474,50 por estudante! Ah, mas o Brasil é um país pobre! Bem, já foi muito mais... Não é o que disse o IPEA outro dia, mostrando ser possível acabar com a pobreza absoluta até 2016! O Chile gasta mais de 4 e o México gasta 3,5 vezes a mais que nós! Gastam não, investem!

Outro dado interessante da tabela anterior é o gasto privado por estudante! Note como a classe média vive apertada pagando escola particular! Ela, de certa forma, deveria ser a principal interessada na melhoria da escola pública, mas não move uma palha neste sentido! Curioso... Neste quesito, aliás, ganhamos da Finlândia, a 1ª no PISA 2006!

O problema é capacitação dos professores? Dinheiro paga capacitação de boa qualidade. Agora, remunere bem o profissional capacitado!

É falta de infra-estrutura? Dinheiro, investimento.

Valorizar o professor e a carreira docente? Salário, dinheiro no bolso é que é bom!

Reduzir alunos por turma? Escola integral? 40% do tempo do professor dentro de sala e 60% estudando, pesquisando, capacitando-se, preparando atividades pedagógicas criativas e interessantes, atendendo aluno com dificuldade? Invistam, e teremos tudo isto! E a qualidade vem junto, naturalmente!

Veja o ranking do ENEM. Na escola que tirou o 1º lugar um aluno custa por mês R$2.700,00. Isto é mais do que um aluno público custa por ano ao governo!

Exigir qualquer coisa que seja de um professor que ganha míseras R$500 pratas é um atentado ao bom senso! Primeiro, vamos deixar o professor tentar sobreviver! Se ele conseguir, aí a gente cobra alguma coisa! Um colega de trabalho me contou um caso da rede pública (Estadual) em BH que me chocou, mas ilustra cabalmente o desprezo pela Educação e o achincalhe, o vilipêndio à profissão docente. Uma orientadora educacional separou-se do marido e ficou com os dois filhos. Trabalhando apenas na rede pública. Primeiro, ela foi obrigada a dividir o pequeno apartamento na periferia com outra pessoa – sublocou um quarto para uma conhecida, tentando sobreviver. Depois, não dando conta nem da sobrevivência, foi obrigada a entregar os dois filhos para o marido criar. Pois não conseguia sustentá-los mais com o salário e a pensão! É o cúmulo da degradação profissional, para uma mãe! Concursada, Ensino Superior...

Na verdade, é incrível que a rede pública brasileira tenha sobrevivido, apesar de tudo! Porque a impressão que se tem é que a intenção de alguns governantes era, de fato, acabar com ela! Desintegrá-la por completo, até o último átomo!

Sabemos que a miséria influi negativamente na Educação. E ela tem diminuído! Contudo, os dados são ainda cruéis: o Brasil continua um dos países mais desiguais do mundo, segundo relatório recente da ONU. No campo educacional, os níveis de educação dos pais influenciam o dos filhos em 55% no Brasil. Estudos realizados em países com altos níveis de renda mostram que a mobilidade educacional e o acesso à educação superior foram os elementos mais importantes na determinação da mobilidade socioeconômica entre gerações”, afirma o relatório. Isto quer dizer, na prática, que se queremos acabar com a desigualdade precisamos investir muito, muito mais mesmo em Educação, e de qualidade! Miséria e deficiência educacional estão intimamente interligadas, como todos os estudos a respeito mostram! E até nisto somos desiguais: temos Educação de 1º mundo e do século XIX convivendo juntas!  Entre as 50 melhores escolas públicas, 39 são Federais, que pagam melhor, e entre as 20 piores, 19 são estaduais e uma municipal.

Estatísticas, números do IDEB, do PISA, não mostram por inteiro, por dentro, esta realidade tão triste. Esta outra pesquisa da UNESCO, sobre os professores do Brasil, dá mais subsídios a respeito. Ela mostra que as carreiras de licenciatura são ocupadas pelos piores estudantes! Aqueles que não passariam no vestibular de inúmeros outros cursos! Duvida? Vejamos a UFMG 2008, só porque está mais fácil aqui no sítio da COPEVE...

Notas mínimas para passar na 1ª etapa em: Belas Artes – 33 ; Música – 34 ; Ciências Sociais – 36 ; Engenharia de Minas – 43 ; Engenharia Química – 49 ; Medicina – 54 ; Matemática Licenciatura – 32 ; Geografia Licenciatura – 33 ; Letras Noturno – 26. Isto na UFMG, que é concorrida! Que dirá as licenciaturas das faculdades particulares!

Além de faltar professor, como digo sempre, pois ninguém é obrigado a querer trabalhar muito e ganhar mal, os que teremos não estarão entre os melhores... Ou como diz esta reportagem, “segundo a PNAD, não há profissão de nível superior que remunere tão mal seus profissionais”. Esses profissionais somos nós, os professores, uai! Mal remunerados! Assim, vamos comprometendo não só o presente, mas o futuro, enquanto adiamos mudanças profundas, investimentos substanciais, tão necessários ao país! Afinal, pense bem: a escolher ser professor, em termos salariais, hoje é melhor escolher ser qualquer outra coisa! Eu mesmo recomendo: não seja burro! Faça outro curso superior qualquer! Porque licenciatura tem tudo para dar errado, atualmente! Siga a PNAD e escolha qualquer outro curso superior que, em média, você receberá melhores salários!

Se alguém que ler esta postagem dispuser destes dados referidos da PNAD, agradeceria imenso enviar ao meu email, pois não tive tempo ainda de pesquisá-los. Sobre o baixo salário do professor.

Para finalizar, que já falei demais, seria prudente a tomada de algumas medidas imediatas. Aliás, várias não consigo entender porque demoram tanto!

A primeira seria a redução drástica do conteúdo do Ensino Médio. Pelo que vi de entrevistas por causa da divulgação do IDEB, não há um único especialista que não concorde! O ENEM já caminha neste sentido. Pessoas capacitadas não faltam. Nada que um encontro de uma semana, com algumas dezenas destas pessoas, não possa fazer. Só assim sobraria tempo para dar algum sentido a esta etapa da escola, que hoje não quer dizer muita coisa. Se vai ser técnico, se vai oferecer disciplinas opcionais, por área do conhecimento, enfim... Algum projeto que melhore, que dê um norte e que dure pelo menos umas duas décadas sem novas mudanças, para não complicar tudo outra vez! Talvez até incluindo alguma flexibilidade, prevendo alterações de rumo ao longo do percurso. Mas, principalmente, que signifique algo além de nada para o aluno!

Estabelecimento de algum tipo de programa nacional mínimo, a ser cumprido, para cada série, por disciplina, desde a inicial até o fim do Médio. Que traga o conteúdo básico a ser ensinado em cada série, especificamente. Quais as metas a serem alcançadas no aprendizado a cada ano do aluno em sala de aula. Que eu saiba, algo tão óbvio assim simplesmente não existe! Tanto que há escolas que lecionam Eletricidade no 2º Ano do Médio, outras no 3º, outras ainda dão todo conteúdo até o 2º Ano e fazem do 3º apenas um revisional, espécie de pré-vestibular... E o resultado é confusão e perda de qualidade por esta absoluta falta de parâmetro!

Divulgação maciça do IDEB e do ENEM de todas as escolas, públicas e particulares, sem exceção. Cada pai, neste país, tem o direito de saber a qualidade de onde seu filho estuda, medida pelo próprio governo, que autoriza o funcionamento de cada escola. O MEC já divulga as avaliações das faculdades, divulga o resultado do ENEM, por escola, e não divulga o IDEB das particulares.  Para começar, quem não deve não teme! Boas escolas têm interesse em fazer é propaganda com os bons resultados! E vários pais sequer sabem disto, que existe uma nota nacional, que avalia a escola de seu filho! O MEC deve fazer uma campanha de esclarecimento, e estimular toda a sociedade a se envolver nesta luta pela melhoria da qualidade da Educação.

Afinal, basta olhar os últimos colocados no ENEM: sem meias palavras, na média, formam analfabetos funcionais! Esta é a realidade! Trabalhando em escolas que se encontravam entre os 6% melhores do Brasil, nos últimos anos (pelo ranking do ENEM), já pude perceber muitos e muitos alunos com gravíssimas deficiências pedagógicas! Imagine os 10% piores! Aliás, escolas particulares que se encontrem neste patamar deveriam ser fechadas, como o MEC fecha as faculdades que não cumprem certos critérios! Pois é um verdadeiro estelionato para com os pais, que inclusive pagam, e, principalmente, para com seus alunos!

Estabelecimento do ENEM como prova obrigatória para certificação de conclusão do Ensino Médio. Tirar das escolas a prerrogativa de emitir diplomas. O governo, através do MEC, é que emitiria. De certa forma, isto já é feito: qualquer um sem diploma do Médio pode fazer o ENEM e tirando 400 (a média é 500), conseguir. Até porque, o exame já é adotado por 85 % das Federais! Isto iria obrigar as escolas muito abaixo da média, cujos alunos sequer conseguissem passar no ENEM, a algum tipo de melhoria! Seus responsáveis, prefeitos, governadores, teriam que tomar alguma atitude! Pois a população cobraria! Como seus filhos, que frequentaram a escola, não teriam direito a diploma? Alguém deveria uma explicação, e providências. Afinal, se a Educação vai mal, há responsáveis por isto!

Isto é muito melhor do que deixar do jeito que está! Estes sistemas de promoção automática do aluno adotados em certos lugares, alguns cursos de EJA de baixíssima qualidade... Melhor trabalhar com a realidade, se queremos resolver o problema, do que com a mentira! Sinceramente, de que adianta encher os brasileiros de diploma quando alguns não sabem nem ler, direito? Faça uma espécie de PISA específico para alunos do EJA por estes grotões e vejamos os resultados... Antes conhecer bem o tamanho do problema e dos desafios a enfrentar a varrer a sujeira para baixo do tapete. Como fizemos, nos últimos anos. Esta má qualidade está na própria planilha do ENEM 2009. Clique no link e olhe os últimos resultados! Os últimos, todos, são escolas públicas!

Educação é importante demais para ser tratada assim, com tanta displicência e banalidade... Vem na aula, toma um diploma aí e pronto! Tamos conversados. Não é assim que se faz, não... Qualidade é outra coisa!

O mesmo esquema poderia ser feito no Ensino Fundamental, com o IDEB, por exemplo. Basta o governo querer. Adotar um IDEB mínimo para o diploma do Fundamental.

E isto mobiliza o aluno, que é obrigado a correr atrás de um aprendizado mínimo, os professores, obrigados a se virar para ensinar melhor, inclusive estudando, e temos parte da responsabilidade sim, os pais, exigindo aprendizado dos filhos, os governantes, que sendo cobrados tomariam alguma atitude. Acharia das medidas mais interessantes que poderíamos tomar. No fundo, o que estaríamos fazendo é estabelecer um patamar mínimo de qualidade, abaixo do qual, honestamente, não se pode dizer que houve um aprendizado escolar satisfatório.

Estas são algumas entre várias outras coisas que (já!) podem ser feitas. E, mais uma vez, o ranking do ENEM mostrou que é possível, sim, fazer um Ensino Público de excelente qualidade! Pena que esta qualidade não é generalizada! E só ocorre em escolas diferenciadas!

Uma das poucas baboseiras úteis que ouvi nas entrevistas sobre o IDEB foi que quem se preocupa com Educação são apenas os 30% melhor educados. 70% da população parece bastante satisfeita com a péssima Educação que tem! E isto precisa mudar! Somente Educação de qualidade pode transformar este país pelo miolo, em todos os aspectos, para muito melhor!

Fora isto, aguardemos o próximo IDEB... Quem sabe a nota do Ensino Médio suba aí uns 0,2 , indo de 3,6 para 3,8 em média... Neste ritmo, + 0,2 por ano, em 12 anos, ganharemos os 2,4 pontos que nos separam da média 6.

Será que podemos esperar tanto? Será que esta demora é boa para o Brasil? Acho que políticas mais ousadas e ainda mais investimento em Educação podem acelerar bastante estas mudanças!

Um comentário:

  1. Olá,

    Deixo um link de um artigo que escrevi sobre o assunto, para colaborar com o debate:

    http://diariodoprofessor.com/2011/06/28/competicao-vestibular-indices-de-avaliacao-provas-sao-ferramentas-boas-para-a-educacao/

    Abraços,

    Declev

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