segunda-feira, 18 de junho de 2012

Educação: a opção pelo topo, não pela base

Fonte: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/educacao-a-opcao-pelo-topo-nao-pela-base?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter
Por Assis Ribeiro
De Agência Brasil
Ex-ministro critica opção do regime militar pela educação superior, e não pelo ensino básico
Gilberto Costa
A baixa escolarização da população brasileira e a falta de mão de obra qualificada para diversas atividades produtivas são ameaças ao desenvolvimento do país, afirma o engenheiro e economista Antonio Dias Leite, ex-presidente da Vale e ex-ministro de Minas e Energia entre 1969 e 1974, no período do chamado milagre econômico (governo Médici).
“Eu diria que esse é o ponto trágico nosso: o despreparo da população para o mundo, que evoluiu para ser mais complicado, mais técnico”, disse ele, em entrevista à Agência Brasil. Em sua opinião, o país errou por não priorizar, na década de 1970, a universalização do ensino básico de qualidade.
“Erramos naquela época –  e eu fiz parte daquele período e reconheço o erro. Não foi dada a importância que deveria ter sido dada à educação de base; aquela que forma um cidadão, uma pessoa letrada para pelo menos tomar parte nas operações mais simples. Isso foi um erro capital”, afirmou o ex-ministro.
Naquele momento, ressaltou Dias Leite, o governo optou pelo investimento na educação superior, imaginando que isso alavancaria mais rápido o desenvolvimento. “A ideia que prevaleceu é que se deveria investir na educação universitária e que, se se elevasse a massa de preparados no terceiro nível [graduação em curso superior], daí resultaria a ação deles na promoção do primeiro e segundo níveis [ensinos fundamental e média]”.
Apesar de ter semeado um sistema de ensino superior que hoje coloca o país em 13º lugar em produção científica (produção de artigos), a opção feita pelo regime militar retardou a universalização do ensino (obtida apenas no final dos anos 1990) e ainda compromete a qualidade do ensino (a nota nacional do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – Ideb/2009 é abaixo da média: 4,6). “O investimento em educação leva anos para dar retorno. Mas, se formularmos uma estratégia [de desenvolvimento],o ponto chave tem que ser uma virada na educação e no treinamento.”
Aos 92 anos, Antonio Dias Leite lançou o livro Brasil País RicoO Que Ainda Falta, no qual analisa as chances de o Brasil se tornar, de fato, uma potência econômica com crescimento sustentado. Para ele, o desafio está além da economia. “Não é propriamente a equação econômica, mas falta um quadro institucional que permita que a gente realize um programa econômico”, explicou.
Dias Leite aponta ainda "a incapacidade de decisão e execução do governo, devido ao seu gigantismo”. Para ele, há muitos ministérios em funcionamento – “para o mesmo assunto tem mais de um ministério”. E há também o problema do loteamento entre os partidos políticos. “Um ministério é do partido tal, o outro, do partido qual. Não haveria problema se, ao se tornarem ministros, os escolhidos fossem ministros do governo. Mas não. Fica a batalha entre partidos dentro da administração.”
Ele defende a continuidade das políticas de distribuição de renda, mas ressalta que apenas os programas sociais são insuficientes, e não acredita que o incentivo ao consumo, por meio de corte de impostos, renegociação de dívidas e redução de juros, vá gerar resultados duradouros.
“No livro, eu trato da armadilha do problema financeiro – armadilha que se montou depois do Plano Real: juros, câmbio, balança de pagamento e dívida interna. Essa armadilha não está desmontada. Houve baixa dos juros, mas foi uma baixa de juros voluntariosa. Vamos baixar os juros, mas não está equacionado o modelo para funcionar nessas bases. Continua amarrado uma coisa a outra”, concluiu.

terça-feira, 15 de maio de 2012

A modernização tecnológica não melhora o aprendizado

Link original: http://www.rodrigovianna.com.br/outras-palavras/as-mentiras-convencionais-de-nossa-educacao.html

publicada terça-feira, 15/05/2012 às 11:41 e atualizada terça-feira, 15/05/2012 às 11:58

Por Lincoln Secco, no amálgama

No final do século XIX o escritor Max Nordau publicou uma obra chamada As mentiras convencionais de nossa civilização. Uma adaptação deste título tão feliz pode ser feita para a educação brasileira a partir de duas notícias salvacionistas para a escola.
Primeira notícia: o Governo do Estado de São Paulo vai investir em lousas digitais. Dessa forma, afirmam os especialistas, o aluno terá mais interesse nas aulas. De acordo com as pesquisas sobre uso de tecnologia na educação (Folha de São Paulo, 5 de abril de 2012), a modernização tecnológica não melhora o aprendizado.
Segunda notícia: o governo paulista não está só. O MEC prometeu distribuir 600 mil tablets para professores. Trata-se de uma prancheta eletrônica que permite acesso à internet, entre outras coisas (como desenhos, jogos e entretenimentos). É possível que a maioria dos professores sequer saiba o que é isto e talvez fosse mais fácil o governo ter usado o termo português “tablete”. Outra ideia do ministro da Educação (Veja, 19 de março de 2012) é alfabetizar as crianças mais cedo e aplicar uma prova aos oito anos de idade para observar seu grau de alfabetização.
Bem, escolhi duas notícias ao acaso já que todo mundo apresenta ideias para a escola. Mas a maioria delas está ancorada numa das mentiras convencionais desmentidas abaixo:
1. Não é verdade que alfabetização até os oito anos seja indispensável. Várias pesquisas (mas a história também) mostram que alfabetizar mais cedo pode até ser prejudicial e que é preferível brincar a estudar antes daquela idade. Cada criança tem um ritmo próprio de aprendizado e a escola deveria respeitar isso.

2. Não é verdade que tecnologia facilite o aprendizado por torná-lo mais atraente. Ninguém deseja que a escola volte aos padrões rígidos de um século atrás. Mas jogar pedra na casa do vizinho ou fazer sexo sempre será mais atraente do que fazer análise sintática ou resolver equações de segundo grau. A escola tem uma dimensão disciplinar inescapável e sem ela não podemos aprender.

3. Não é verdade que a escola pública era boa porque era para poucos e hoje é ruim porque atende a todos. Ela se tornou ruim porque o Estado preferiu investir somente na sua expansão física e passou a gastar proporcionalmente menos com professores e equipamentos tradicionais (livros, laboratórios, bibliotecas, piscinas e anfiteatros). Massificação com ampliação de recursos não seria problema algum. E de onde viriam os recursos? Bem, o Estado optou por construir Brasília, sustentar a corrupção da Ditadura Militar e gastar com pagamento de juros.

4. Não é verdade que a redução da idade de ingresso na escola atendeu critérios pedagógicos. Como as creches se tornaram um direito reivindicado pelas mães e custa mais barato abrir um turno na escola fundamental, os governos reduziram a demanda por creches fazendo as crianças saírem mais cedo delas.

5. Não é verdade que aumento salarial substancial não melhora a educação. O problema é que um professor carece de salário e status. A relação pedagógica é baseada principalmente na autoridade conferida ao docente pela avaliação, idade, conhecimento e respeito social. Como vivemos numa sociedade capitalista, é claro que a maior parte desses atributos depende da renda. Ou seja: do salário!

6. Não é verdade que o investimento dos governos em tecnologia educacional tenha por escopo melhorar a educação. Na verdade este tipo de investimento é adotado porque é mais barato e aparece mais.

7. Não é verdade que determinar novos conteúdos para o currículo escolar melhore a cidadania. Mas é verdade que pode piorar o estudo de conteúdos já tradicionais como Matemática, História ou Língua Portuguesa. O problema do trânsito, a religião, atividade sexual, prevenção de doenças, ecologia, direitos humanos, criminalidade, drogas etc., são sempre problemas que os políticos deixam para a escola resolver. Basta um congressista ter uma ideia e já temos uma nova obrigação para os professores. Perguntar se uma lei é exequível em função do orçamento é algo comum, mas ninguém se pergunta se os novos conteúdos obrigatórios “cabem” no currículo e no tempo de aula. É que todos esquecem que a educação não se dá apenas na escola. Só uma parte da educação juvenil é escolarizada porque na maior parte do tempo o aluno está submetido a outros educadores: amigos, família, polícia, deputados, más ou boas companhias, namorados etc. Por isso, pouco adianta ensinar ética se o Congresso Nacional perdoa seus parlamentares corrompidos.

É preciso dizer que a instituição escolar está em crise (como a família, as Forças Armadas, a Igreja e os partidos). As relações entre jovens e velhos, filhos e pais, chefes e subordinados mudaram. Impotentes, todos esperam que a escola seja a única a resolver uma crise civilizacional. É possível que a escola não exista mais num futuro longínquo. Afinal, a escolarização em massa é muito recente na história.
Mas por enquanto precisaremos dela. Quando um ministro diz que os alunos estão no século XXI e a escola no século XIX, esquece que em alguns lugares (como o Brasil) nós passamos diretamente de um país ágrafo para outro que assiste televisão e manipula ícones no computador. Não tivemos (como no Velho Mundo) a fase do livro e da leitura. Ainda precisamos um pouco de século XIX: professores respeitados, giz, quadro negro, alunos na sala de aula e livros à mão cheia.
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sexta-feira, 11 de maio de 2012

Estão acabando com o magistério

Publicado Originalmente em: Carta Capital, http://www.cartacapital.com.br/sociedade/estao-acabando-com-o-magisterio/ 
Por Aurélio Munhoz*

A mais nobre das profissões no rol das gloriosas ocupações que integram o universo da Educação está a um passo de entrar em colapso. O magistério nunca esteve tão desmotivado e nem nunca foi tão vilipendiado como tem sido na 6ª maior economia do planeta.
Não que o drama da classe seja novidade. Professor é desrespeitado desde sempre. Mas esqueçamos as barbaridades cometidas contra o magistério no passado para nos concentrar em apenas um dos problemas centrais da categoria no Brasil de hoje: os baixos salários dos professores.
Foto: Galeria de JD Hancock/Flickr
O novo piso do magistério, anunciado no mês passado pelo MEC (Ministério da Educação), recomenda aos estados e municípios pagar um salário mensal de 1.451 reais aos professores por um regime de 40 horas semanais de trabalho. Note-se que este valor é apenas uma recomendação. Não uma exigência.
Mesmo sendo baixo para uma categoria desta importância, o piso proposto é inatingível à grande maioria das 5,5 mil prefeituras brasileiras.
Levantamento divulgado em março no Paraná, estado onde o cenário de crise da Educação é menor, revelou um dado assustador: 51% dos 399 municípios do Estado já concederam reajustes salariais ao magistério em 2012.
Mesmo assim, não atingiram o valor. E o quadro deve piorar em 2013. Primeiro, devido à insuficiência das receitas das prefeituras. Depois, em função do efeito cascata que a correção do piso acarreta sobre as folhas de pagamento dos governos municipais devido à necessidade de repasse do valor aos professores aposentados e a todos os beneficiados pelos Planos de Cargos e Salários do Magistério – fato que, aliás, deve obrigá-los a superar o limite dos 52% de comprometimento de sua receita corrente líquida com pessoal, fixados pela LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal).
Em estados mais pobres, o quadro é ainda pior. Seus governadores podem pedir ajuda à União para complementar os valores que as prefeituras pagam até atingir o piso. Mas apenas 1.756 municípios de nove estados do Norte e Nordeste (AL, AM, BA, CE, MA, PA, PB, PE e PI) que recebem recursos do governo por meio do Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização do Magistério) têm este direito garantido. Os demais penam em tirar da cartola soluções financeiras mágicas para honrar as exigências previstas na Lei do Piso.
Esta é uma das razões pelas quais, como denunciam os prefeitos, um dos pilares do problema é a insuficiência dos recursos para o financiamento da Educação. De acordo com o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, de cada 1 real arrecadado em impostos pelo Brasil, 57 centavos ficam com a União e apenas 18 centavos, com os municípios.
Isto não significa que os municípios não tenham culpa pelos baixos vencimentos pagos aos professores, mas que a política salarial do magistério não pode ser tratada apenas como uma questão econômica e de responsabilidade apenas das prefeituras. Há um componente fortemente político na solução dos baixos salários dos professores, que passa por uma ampla reforma tributária – seguida de uma distribuição mais justa de receitas entre os Entes Federados – para garantir o custeio dos aumentos de vencimentos que os professores merecem.
Mas o caos do magistério é extremamente grave por outra razão – e é neste aspecto que reside o eixo deste artigo. É que a consequeência direta do descaso imposto ao magistério é o desinteresse dos jovens pela carreira e a fuga dos profissionais que já atuam na área para outras atividades, mais rentáveis e menos desgastantes.
Os dados justificam esta preocupação. Estudo encomendado pela Fundação Victor Civita à Fundação Carlos Chagas revelou que somente 2% dos estudantes do ensino médio têm como primeira opção no vestibular cursos ligados ao magistério.
E isto não é tudo.
De acordo com o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), entre 2001 e 2006, o número de cursos de licenciatura cresceu 65%; o de matrículas, apenas 39%. As conseqüências do problema são palpáveis: ainda segundo o Inep, considerando-se apenas o Ensino Médio e as séries finais do Ensino Fundamental, o déficit de professores com formação adequada passa dos 710 mil no Brasil todo.
Como se percebe, a degradação das condições de vida do magistério é muito mais que a degeneração de uma categoria profissional. É sinal da grave crise enfrentada pela instituição Educação.
E não se diga que a culpa pelo problema é apenas dos governantes e legisladores que prometem – e nunca cumprem – posicionar a Educação como sua prioridade. A imprensa, o setor privado e a sociedade adotam rigorosamente a mesma atitude.
A mídia porque, ao invés de promover um debate sério e profundo sobre a Educação, prefere concentrar seu poder de fogo na divulgação sistemática da mediocridade e da cretinice, classificadas de notícias. “Notícias” que agradam ao andar de baixo mas que, acima de tudo, rendem mais reais porque possuem perfil marcado por apelo supostamente popular – futebol, sexo, escândalos, criminalidade e as costumeiras idiotices envolvendo celebridades midiáticas.
O setor privado porque, embora se defina como de vanguarda no ensino, guardadas as exceções de sempre, paga aos seus professores menos que a grande maioria dos profissionais com formação universitária e lhes oferece condições de trabalho nem sempre dignas.  Com a diferença de que, pela pressão da lógica capitalista, cobra deles muito mais resultados que no setor público.
A sociedade também é responsável pelo problema. Ao invés de enfrentar este cenário com a seriedade que o tema merece, intensificando as cobranças tanto dos agentes públicos quanto dos privados, prefere desestimular seus filhos a seguir a profissão, rendendo-se à lógica pragmática do capital. Ou apenas se omitir do processo, quando entrega às escolas o ingrato papel (que é seu) de educar os próprios filhos.
O Brasil, que sonha em ser alçado ao seleto rol dos países desenvolvidos, está acabando com a carreira do magistério. Por analogia, está comprometendo seriamente a Educação e, o que é pior, o futuro que estamos reservando aos nossos descendentes. Triste que seja assim.

*Aurélio Munhoz é jornalista, sociólogo, consultor em Comunicação e presidente da ONG Pense Bicho. Pós-graduado em Sociologia Política e em Gestão da Comunicação, foi repórter, editor e colunista na imprensa do Paraná.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Quem quer dar aula é burro!

Reportagem da Folha mostra porque. Observe o quadro comparativo de salários. Como discurso não enche barriga, mas salário, se pensarmos que um Doutor entra na rede federal ganhando R$6.000 líquido, é muito pouco para tanto estudo! Nas redes estadual e municipal então, o salário chega a ser ridículo em alguns casos. Valorizar a Educação passa obrigatoriamente pelo salário. O resto, é perfumaria.
Segue reportagem, no link . Salário explica a falta de professor em 32% das escolas da rede estadual paulista.


Falta professor em 32% das escolas estaduais de São Paulo

Dois meses após o início do ano letivo, uma em cada três escolas estaduais da cidade de São Paulo enfrenta falta de professores. O problema afeta, principalmente, as disciplinas de arte, geografia, sociologia e matemática.
A informação é da reportagem de Fábio Takahashi publicada na edição desta quarta-feira da Folha. A reportagem completa está disponível a assinantes do jornal e do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha.
O déficit de professores persiste mesmo após a Secretaria da Educação liberar a convocação de profissionais reprovados em exame do Estado e de outros que nem fizeram a prova.
Alunos de uma escola da zona norte relatam que só tiveram duas aulas de geografia. Outros não tiveram nenhuma aula de artes.
OUTRO LADO
Por meio de nota oficial, a Secretaria Estadual da Educação de São Paulo afirmou que o levantamento feito pela Folha é "enganoso" e não reflete a realidade sobre o quadro de docentes. De qualquer forma, para aprimorar a rede, disse a pasta, será aberto novo concurso público no próximo semestre.

Editoria de Arte/Folhapress



domingo, 4 de março de 2012

O aparente Micro que é Macro


Estava lendo a reportagem “A lei americana de Recursos Educacionais Abertos” e me lembrei na hora do Brasil! De um tema que há muito quero levantar e acabo tratando de outras coisas. Trata-se da Ditadura do PDF!

Como todos nós cometemos erros, mas evoluímos, espera-se, também já cometi este. Mal influenciado por uma ideologia dominante na rede particular, onde sempre trabalhei até passar no concurso do Cefet-MG, montei meu primeiro site com material em .pdf: o Física no Vestibular. Na época, além de emails, não entendia bulhufas de rede... Mas, já tinha a semente do compartilhamento. Tanto que as aulas em PowerPoint que dei até 2005 na Faculdade Novo Rumo, disciplinas várias na área Nuclear, compartilhei na rede e fazem muito sucesso, gerando centenas de milhares de visualizações. Bem como as aulas que usava ainda nos fins dos anos 90, no pré-vestibular! Tinham acabado de comprar o novíssimo “datashow”!

A proposta do meu novo blog, o Física no Enem, é outra: compartilhar, tudo o que possível. E aí entra a história da ditadura...

Antigamente, ainda se achavam Words (.doc) na rede: universidades publicavam provas de vestibular em Word, pessoas postavam documentos, trabalhos, etc. E veio a onda proprietária: de uns anos para cá, só .pdf! Praticamente tudo o que é relevante está em .pdf! Um edital de concorrência pública, uma sentença do judiciário, até vá, mas...

Qualquer professor com recursos e interessado no bom aprendizado de seus alunos hoje consulta e utiliza a rede. Vejamos quantos professores. No Inep, encontro dados de 2009. Seriam  1.977.978 (fora o Ensino Superior) no total e, apenas no Médio  461.542, quase meio milhão! Agora, pensemos...

Em 2009, foi lançado o Novo Enem, até no nome, inédito, recente, inovador. Se você for exemplificar para os seus alunos, vai usar questões antigas de vestibulares, completamente distintas desta proposta, ou das poucas provas que ocorreram desde então? Parece claro: usar as provas do próprio Enem. O formato e a ideia das questões é outro! Aí, o Inep (governo) divulga as provas apenas em ... .pdf!

O que o governo espera? Que meio milhão de professores editem centenas de questões em .pdf? Já pensou em quanto trabalho repetido, à toa, jogado fora? Afinal, se um apenas fizesse, poderia distribuir para 460 mil! De preferência, quem fez a prova! Quanto recurso, quanto dinheiro mesmo, quanto tempo o país desperdiça com este “detalhe”?

Você que está lendo: já tentou “transformar” um .pdf em Word, o trabalho que dá? Todos os programas que conheço e que fazem isto apresentam algum tipo de falha, nunca vi ficar perfeito, o esforço é gigantesco se quiser boa qualidade!

Os grandes grupos particulares na educação têm quem faça isto pelo professor, mas... Costumam entregar a seus funcionários (na rede particular o professor é um simples funcionário, por mais que muitos acreditem que não) o trabalho, ou seja, as questões separadas por assunto, por habilidades, etc. em ... .pdf! Têm receio de que alguém “roube” o produto deles! Afinal, na rede particular educação é mercadoria, infelizmente, à venda. É isto... Triste, mas é. Agora, nas particulares menores, a maioria esmagadora, nem isto: você que se vire, e muitas vezes é exigido que se vire! Problema seu!

Por outro lado, já imaginou se apenas as universidades FEDERAIS (PÚBLICAS) disponibilizassem as provas dos vestibulares em simples Word? O Inep (PÚBLICO) divulgasse o Enem, Encceja, Enade, em .doc? Quantas questões fáceis de usar teríamos na rede? Claro, pode soltar um .pdf, para comparação, já que em .doc ocorrem problemas de formatação, diferenças entre o original e o que é aberto em seu computador, mas em .doc TAMBÉM, E PRINCIPALMENTE! É do interesse de meio milhão de professores e dezenas de milhões de alunos e suas famílias! Nem vou dizer soltar em formato aberto, um Office livre, porque é pedir demais: o povo se recusa a aprender a usar! Prefere outra ditadura: a do Windows!

Veja o absurdo! Vou eu corrigir o Enem 2010 para distribuir, de graça, e...


O famigerado quadradinho! O comando de copiar e colar não funciona! O Inep (governo) não deve querer que eu use a questão do Enem para ensinar para o próprio ... governo, onde eu trabalho! E para o público, que me paga! Nunca consegui desfazer este problema! Se souber, alias, me ajude! Em .pdfs assim, só copiando como figura... Já tentei vários tutoriais, instalar fontes, nada... Ridículo!

O M.I.T., com a fama toda, disponibiliza aulas e cursos na rede. O MIT, heim! Eu mesmo já assisti às aulas no YouTube, usei simulações de computador! Já nós...

iniciativas neste sentido... Ínfimas, em face das necessidades! Pior que comparado com outros investimentos estes seriam até baratos! Por isto, admiro quem faz um trabalho público e bem feito, como o Mago da Física! O MEC, apesar dos avanços, que reconheço, apóio e admiro em alguns casos, como o próprio Enem, parece se preocupar mais em distribuir tablets do que com o dia a dia dentro da sala de aula das dezenas de milhares de escolas deste país!

Poderíamos há anos ter um banco de questões, público, separado por assunto, por dificuldade, por série...! Somente com as questões que as FEDERAIS (PÚBLICAS) andaram usando nas últimas décadas em seus vestibulares daria um puta arquivo!  Um banco de provas, prontas, por assunto, por dificuldade, abertas, fechadas, por que não? Nosso aluno não faz e fará provas concebidas por outras pessoas? Em muitos casos teriam até melhor qualidade! Uns dez professores capacitados, por disciplina, teriam feito este banco em alguns anos de trabalho, para meio milhão de professores! Uns 100 professores, no máximo, em meio milhão, mais o povo da informática para operacionalizar.

Só quem nunca deu aula não pode imaginar o tempo, o esforço, o trabalho hercúleo que isto pouparia aos professores! Que usariam esta sobra de tempo com suas famílias, para melhorar a qualidade da Educação, para preparar outras atividades interessantes que nos cobram tanto, para adquirir mais capacitação – também tão cobrada –  e mais cultura... Mas, não... Trabalhe na rede particular e dê umas 50 aulas por semana para você ver quantas questões você deve entregar por bimestre! Quantas provas! Burrice: a qualidade do trabalho cai!

Por que não temos alguns milhares de aulas públicas, ótimas, em PowerPoint?

Nem um curso de Física Experimental, ainda, para dezenas de milhares de escolas que não têm um laboratório sequer! E cada laboratório é investimento de dezenas de milhares de reais! Pegue uns quatro professores da rede federal, um laboratório, dispense-os de quase todas as aulas, e estes 4 são capazes de filmar isto em um mísero ano! A turma da informática edita e põe na rede, de preferência no YouTube! Por que não o Mago, que já faz isto? Por que não acompanhar a prática filmada com uma planilha do Excel trazendo os dados que podem ser tirados desta prática? O aluno pode trabalhá-los, sem nunca ter pisado num laboratório... Mas, também não... Vamos fazer o quê? Comprar um Telecurso da Globo?

Darcy Ribeiro já denunciava o poderoso lobby do material didático na década de 80! E, ao que parece, mudou pouco. Pois o que vemos é o governo comprando e distribuindo dezenas de milhões de livros - o que eu uso já existia na década de 70! - todo santo ano, ao contrário de investir em um material público e gratuito, em .doc, versátil, que poderíamos, inclusive, personalizar, melhorar. Poderia ser impresso localmente! Sairia muito mais barato um material próprio, sem pagar pelos direitos autorais e pelo lucro! Professor público é que não falta, para isto!

É o que diz a reportagem lá do começo, nos EUA, onde não tem bobo nem nada! E olha que é a terra do “privado”! Vamos pagar às editoras mais quantos anos, quantas décadas, quantas dezenas de milhões $$$$$$$? Educação não seria uma área assim, estratégica, para deixar em mãos particulares? Quantas reportagens mais veremos de livros jogados fora, no lixo?

Se quisermos melhorar a qualidade da Educação, poderíamos muito bem começar com medidas simples, que impactam diretamente o cotidiano do professor dentro de sala, com os alunos, antes de pensarmos em distribuir notebooks e tablets! Parece que é o que diz o camarada aí nesta outra reportagem sobre a Finlândia. E eles estão alguns patamares à nossa frente. Como Cuba, onde nem dinheiro sobrando para gastar nestas coisas tem... Mas a Educação vai bem, obrigado!

Se pudesse começar amanhã distribuindo o que for público, como provas, em .doc, já tava bom... Já é um começo, ! Denota assim ... certa ... boa vontade para conosco.