sábado, 17 de setembro de 2011

Capitalismo de fachada

Este caso da venda casada de banda larga, que vou comentando e documentando aqui, tem conexões com muitos outros exemplos correntes no país. E mostra como pensam e agem os formuladores das políticas econômicas das elites empresariais.

Durante anos, desde antes da Ditadura militar, nossa economia foi fechada a produtos estrangeiros. Lembro das poucas importadoras, lojas especializadas que vendiam de perfume a bugigangas eletrônicas a preços caros nos bairros chiques. Hoje, é difícil achar um eletrônico que não tenha nada “made in China”. E a muamba corre é solta: há shoppings especializados, como o Oiapoque, em BH. De vez em quando a polícia dá uma batida lá, e no dia seguinte tudo volta ao normal. Eu mesmo sou freguês assíduo, pois a diferença de preços é gritante! Se a regra é esta, deixar o contrabando ser vendido livremente e todo mundo sabe, inclusive as autoridades, por que o consumidor não deveria escolher o mais barato? Dão até garantias na muamba vendida, trocam produtos com defeito e tudo o mais!

Nesta semana, tivemos um aumento do IPI dos carros importados. Gritaria dos importadores, alegria da indústria “nacional”! Qual indústria automobilística “nacional”, aliás? O Brasil não tem nenhuma marca de carros! Ao contrário de outros ditos emergentes! As que estão aqui são é recordistas de envio de lucros às matrizes, no exterior! As fábricas daqui salvaram as matrizes na crise! E, nas telecomunicações, não é muito diferente! Tim, Claro, Net, Vivo, Embratel...: todas têm sócios estrangeiros!

Assim como as montadoras “nacionais” chiaram com a concorrência estrangeira, o que as teles menos querem é concorrência, também! Pouquíssimas empresas controlam a banda larga, a TV paga e a telefonia! Como no mercado de automóveis, as 4 maiores quase dominam o mercado de internet! Se reportagens recentes mostram que o preço do carro nacional é absurdo, e caríssimo, tanto que se exporta mais barato do que se vende aqui, nas teles dá-se o mesmo, e pesquisa recente comprovou isto! O brasileiro chega a gastar cerca de 5% de sua renda com telecomunicações, muito acima das economias ditas maduras! As pequenas quedas de preços, que ocorreram tanto nas telecomunicações quanto nos carros, se devem sempre à atuação do governo! Nunca pela concorrência, ou livre mercado! E a mídia, paga com grossas verbas publicitárias destes dois setores, sempre coloca a culpa nos impostos, jamais nos oligopólios e preços abusivos!

Sem atuação firme, incisiva, vigilante e abrangente do governo, estes são dois setores, carros e telecomunicações, onde preços não cairão e concorrência jamais existirá! A indústria dos “recalls” continuará firme, a venda casada de banda larga correndo solta, e o consumidor brasileiro pagando mais caro, sempre! Afinal, o objetivo das empresas é justamente este! Não têm ou nunca tiveram o menor compromisso com o país! Ou melhor, a crise mostrou que não têm nenhum compromisso com nenhum país, somente com seus acionistas!

O Plano Nacional de Banda Larga deve fazer baixar um pouco o preço, bem como democratizar um pouco mais o acesso. Da mesma forma, obrigar a indústria automobilística com metas de manutenção do emprego, nacionalização da produção, aumento da eficiência energética precisa partir do governo, pois sozinho o mercado jamais caminhará neste sentido! Os sindicalistas estão cobertos de razão em reclamar que compromissos com empregos e salários deveriam estar entre as primeiras prioridades, antes de se cogitar quaisquer tipos de incentivo ou renúncia fiscal! Como no PNBL, onde as teles pressionam para arrancar o máximo possível de concessões do governo! O que é até denunciado pela sociedade organizada!

A principal verdade que a tal crise atual, que está longe de acabar, mostrou, é esta: este tal mercado é a maior furada da paróquia! Para os consumidores, ele simplesmente não funciona! Empresas, de qualquer ramo, querem é lucro, e só! Quanto mais puderem cobrar do consumidor, do cidadão, e com o menor investimento possível, é assim que atuarão! E, como os bancos, em caso de qualquer problema ainda vão tentar empurrar a conta para nós pagarmos!

Portanto, o que cabe a nós, sociedade, se quisermos proteção, preço digno, garantia de concorrência, empregos e bom salário aos trabalhadores além de bons serviços prestados à todos os cidadãos, que tratemos de exigir do governo e da justiça (Justiça?) nossos direitos defendidos e contemplados.

Caso contrário, das empresas não devemos esperar é nada! Porque esta nunca foi a regra neste Capitalismo, cuja concorrência é de fachada! Os objetivos claros são outro$!

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