quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Perfil dos alunos nas IFES

A Andifes fez interessante pesquisa sobre o perfil dos alunos nas Instituições Federais de Ensino Superior. Ela mostra que “cerca de 43% dos estudantes das universidades federais são das classes C, D e E.” O índice varia em cada região, e é menor no Sul do país. Parece um grande avanço, “entretanto, o percentual de alunos das classes mais baixas permaneceu estável em relação a outras pesquisas feitas pela entidade em 1997 e 2003.” Ou seja, segundo as próprias pesquisas da Andifes, houve apenas estabilidade!

Além do que, o número bruto mascara outro grave problema: “os reitores destacam que a inclusão dos estudantes das famílias mais pobres não é a mesma em todos os cursos. Áreas mais concorridas como medicina, direito e as engenharias ainda recebem poucos alunos com esse perfil.” Quer dizer que os pobres estudam mais em cursos menos concorridos, e a concorrência se relaciona ao chamado mercado. Logo, grosso modo, podemos dizer que os mais pobres estudam mais em cursos que pagam menos no mercado de trabalho, e, quanto aos mais ricos, o contrário!

É claro que são importantes as chamadas políticas afirmativas e inclusivas, como bônus, cotas, Prouni, Enem. Mas, apenas estes dados já mostram que ainda há muito o que se avançar neste sentido, o da inclusão! Afinal, no Ensino Superior Público, sempre houve graves distorções. Vejamos a tabela abaixo, tirada da pesquisa. Não sei por que, preferiu-se outra classificação que não a do IBGE. Além de a referência citada ser de 2000, 11 anos atrás, e talvez bastante defasada!


Comparando com estes outros dados do IBGE. Como trás 7 categorias de renda, usei a mesma escala da pesquisa anterior, de classe E até A1. Apenas para fazer uma comparação.


Agora, observe a distribuição por classe dos estudantes nas Federais, segundo a pesquisa da Andifes.


As classes A e B, pelo IBGE, que seriam cerca de 30% da população, ficam com cerca de 60%, o dobro percentual, das vagas! E, na outra ponta, a classe mais pobre, E, com 21,6% da população e somente 0,8% das vagas! Sendo que todos os estudos apontam a Educação como fator fundamental para a mobilidade social! Uma distorção gravíssima e que precisa ser atacada e mudada na prática, não na teoria! O que ocorre, ainda, e que pouca gente diz é que as classes mais ricas, com acesso a recursos e à informação, tomam literalmente posse do que é público, as vagas nas Federais, e mais ainda nos cursos mais concorridos! Uma injustiça flagrante!

Isto ocorre pelo que se tem notícia no Brasil desde sempre... E já foi pior! Eufemismos não vão alterar esta realidade.

Separando por cor (declarada pelo estudante) da pele, o preconceito que se tenta negar fica explícito: os pretos são somente 8,7% dos alunos nas Federais! E olha que melhorou!

Olhando pelo tipo de escola em que se cursou o Ensino Médio, a pesquisa trás a tabela abaixo.


Novamente comparando com os dados oficiais, do EduData, disponível no Inep/MEC (só achei até 2006).


Temos nas Federais cerca de 53% dos alunos oriundos da rede Particular (integralmente ou na maior parte dos estudos). Só que, como se vê, no Brasil a rede particular representa apenas 12% do total de matrículas! Outra distorção gravíssima! Além do que, como estamos olhando apenas o Ensino Médio (que eu me acostumei a chamar de 2º Grau), seria interessante separar os dados das públicas Federais, como o Cefet-MG e o Coltec, da UFMG. Pois estes, públicos, já são elitizados na seleção (provas, vestibulares) e mascaram ainda mais os dados dos estudantes oriundos da rede Pública!

São 85% os alunos na rede Estadual, como se vê na tabela. Em Minas, hoje, eles estão em Greve, e com toda a razão! Bem o disse a professora: quem tem que ficar constrangido são os políticos! O piso salarial pago aos professores pelo PSDB aqui é de, pasme, R$369. Uma miséria indisfarçável...

Assim, não tem discurso capaz de alterar estas realidades! Concordando com os professores, é o pior salário do Brasil! E vai continuar faltando professor por um bom tempo, com toda razão... Ser pedreiro, serralheiro, marceneiro vale muito mais a pena! Que dirá Médico ou Engenheiro! É o que sempre recomendo: não cace confusão! Arrume outra coisa qualquer para fazer!

Para minha tristeza, sou obrigado a dar este bom conselho a todos... Educação não é valorizada, na prática, neste país. Só no discurso, só na teoria.

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