terça-feira, 21 de julho de 2009

De hora em hora o trem piora

Como vou entrar de férias, resolvi deixar um último post até eu voltar. Para todos pensarmos um pouco e melhor sobre o significado da palavra EDUCAÇÃO. Para tanto, vou fazer uma viagem no tempo e uma comparação entre o que eu vivi, sentado no banco da escola, no meu antigo "2º Grau", atual Ensino Médio, e o que vejo agora, diariamente, dentro de sala de aula. Claro, sob outra ótica: agora sou professor.

Cabe lembrar que tenho dois "Segundo Grau": em escola particular, onde estudava pela manhã, e no CEFET/MG, onde estudava à noite, simultaneamente.

Sempre fui um bom aluno. Mesmo com duas escolas marcando "para-casas" - nem se ouvia o termo "tarefa" - procurava fazer e posso dizer que conseguia fazer todos os DEVERES - isto mesmo, DEVER de casa. Ou seja, não passava da mais natural OBRIGAÇÃO minha. Meus pais, inclusive, sempre cobraram que eu os fizesse e verificavam pessoalmente. Até certo tempo, já que depois viram que não precisava mais: eu fazia, mesmo.

Hoje, marco as "tarefas" e verifico de meus al
unos pessoalmente, exceto no 3º Ano. Em alguns casos, 70, 80% de uma turma chegam a não fazer. Ou simplesmente copiam! Isto porque sabem que eu vou olhar, se não, nem isto! E eles acham a coisa mais normal do mundo... Imagino que os pais também, afinal são os filhos deles que não fazem. Pela tranqüilidade que me passam, não creio que estejam sendo cobrados em casa de alguma forma...

Meus professores costumavam perguntar em sala se havia "alguma dúvida" sobre as tarefas. Quando eu tinha, perguntava e era esclarecido. Outros colegas faziam o mesmo. Em geral, quem não tinha feito o DEVER sequer se manifestava. Porém, dava um jeito de estudar antes da prova, pois a cobrança era certa. Nem à noite, onde praticamente todos os meus colegas trabalhavam durante todo o dia, eles deixavam de fazer exercícios! Se viravam: madrugadas, hora do almoço, fim de semana, ... Sem choradeiras!


Hoje, quando pergunto em sala, TODOS os exercícios costumam ser dúvidas... Uma amostra clara de que não foram feitos por uma boa parte dos alunos. Alguns alunos sequer têm uma única dúvida, e admitem que não faze
m nenhum exercício, nunca! Aliás, quando pergunto sobre dúvidas em véspera de prova, costumo ouvir o famoso pedido de revisão! Eh, trem que me irrita! Ora, bolas... Ver de novo, e de forma corrida, o conteúdo já visto, em minha humilde experiência de 20 anos lecionando, simplesmente não resolve nada! Mas, novamente, é a ilusão de que se vai aprender assistindo, passivamente, o professor citando tópicos que serão cobrados em avaliação. E, muito pior, alguns ainda têm a cara de pau de perguntar, e questionar, se os exercícios da prova serão semelhantes - para não dizer idênticos - aos comentados pelo professor! É o fim da picada...

Na minha época - final dos anos 80 - não havia internet, projetores e até retroprojetores eram raros, mesmo na escola particular! Recursos multimídia, nada! Para estudar, eram os livros e horas e horas de leituras e treinamento com exercícios. Pesquisas, só na biblioteca. Eu conhecia as enciclopédias e sabia encontrar informações nelas.

Hoje, com internet e tudo o mais, alunos não conseguem sequer extrair uma informação básica do computador! Vejo alunos que não conseguem achar provas anteriores de universidades, candidatos por vaga, máximos e mínimos, enfim, informação fartamente disponível e acessível!

Dentro de sala, era raríssimo um aluno conversar. Pequenas conversas eram advertidas pelo professor. Insistências eram IMEDIATAMENTE PUNIDAS com exclusão de sala, suspensões e expulsões. Hoje, chego a pedir silêncio mais de 10 vezes em uma única aula, constantemente. Já contei. É a regra... Excluo alunos de sala várias vezes. Minha cabeça chega a doer e fico desorientado em sala, algumas vezes, pela conversa incômoda, insistente e desrespeitosa. Começar uma aula é uma tarefa árdua, tamanha a algazarra feita pelos alunos na mudança de professor! Mesmo com atenção da supervisão/coordenação, entra ano, sai ano a coisa só piora...

Com todos os recursos tecnológicos e pedagógicos, infelizmente sinto que a EDUCAÇÃO, inclusive aquela que vem de casa, ou como se diz, "de berço", deixou de ser um VALOR para muitas famílias... Paga-se uma escola particular, onde a qualidade do ensino é boa, mas não temos como obrigar alguém a estudar. E como estudar é fundamental para aprender, muitos, muitos alunos mesmo não aprendem e vão empurrando com a barriga. De certa forma, a escola mesmo permite: há recuperações anuais, semestrais, bimestrais, quando não inventam uma recuperação extra qualquer para dar uma "nivelada" não no conhecimento, porém nas notas dos alunos. Isto mesmo com plantões semanais de todas as disciplinas, para tirar dúvidas, aprofundar estudos, enfim, enfrentar e procurar resolver qualquer problema de aprendizagem que porventura apareça. Coisa que jamais houve em minha época, cerca de vinte anos atrás...

Se o aluno for aprovado em um curso concorrido numa Federal, ótimo... Se não for, há inúmeras opções de faculdades particulares, algumas com qualidade bastante discutível, mas, tudo bem... Da classe média para cima, podendo pagar, sem diploma superior, hoje, só fica quem é muito carente ou tem graves problemas de aprendizado. O que não costuma ser o caso dos alunos da rede particular. Muitas vezes, no mercado de trabalho, contatos e influências valem mais que competência, mesmo.

Porém, tudo isto é muito triste, e preocupante! A escola inovou, se modernizou e procura oferecer o que há de melhor para o aluno aprender. Claro, falo da rede particular. Mas, algo se perdeu no caminho... E foi muito recentemente! A responsabilidade pelo aprendizado, que era dividida com o aluno, foi toda incorporada pela escola! E este é um enorme erro! Com as conseqüências graves cujos frutos vamos colhendo hoje, por aí, por todo canto.

Segue uma charge, que tenho visto muito, ultimamente, e que reflete exatamente esta realidade, que qualquer educador sério e que toda a sociedade precisam encarar, se quizerem de fato melhorar a EDUCAÇÃO.


E, para ilustrar bem, uma outra realidade: segue um vídeo de uma reportagem que mostra como a coisa é, na Coréia do Sul. País minúsculo, devastado e dividido pela gerra, que investiu muito em educação e hoje está aí, exportanto para nós! Tirei do ótimo site IG Educação. Dá-lhe Coréia! Vide LG, Kia, Hyundai, Samsung, ... De fato, estamos muito atrasados!


Um comentário:

  1. Oi, amigo, fiz questão de ler cada linha e parágrafo de seu texto. Me chamou muita atenção, até porque suas inquietações são as minhas inquietações.

    Acho que você foi muito lúcido na idéia de que a escola não divide mais com o aluno a responsabilidade pelo aprendizado. Ora, se o aluno se exime, quais as chances do processo ser bem sucedido? Se um paciente não assume a responsabilidade pelo tratamento, qual a chance de cura?

    Valeu o texto, cara!

    Um grande abraço,
    Prof_Michel

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