sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Quanto custa ter e manter um carro popular durante 5 anos? Mais do que o dobro do seu preço!

Comprei meu Uno em meados de 2006. Um dos carros mais baratos e, lógico, mais vendidos do Brasil há décadas. Em breve, completará 5 anos de uso. Nunca bateu, manutenções que considero normais, até hoje nada grave. Tive uma encostada de outro carro com o meu parado, estacionado, que quebrou a lanterna traseira e deu uma amassadinha. Gentilmente, o sujeito pagou. Além disto, num vendaval de primavera daqueles que chove até “granito”, caiu um galho de árvore no capô e deixou uma marquinha. Tranquilo.

O carro custou, na época, exatos R$21.152,65. De acessórios: alarme, travas, calhas, frisos laterais, peito de aço, tapetes, ‘break linght’, som, vidros elétricos, capas dos bancos, aerofólio, enfim, tudo isso deu mais R$1.291,00. Não estou fazendo a correção monetária dos valores. Só somei os daquela época, mesmo. E evidentemente não coloquei nenhum acessório nas concessionárias, pois aprecei (mais de uma vez, não é o único zero que comprei). Simplesmente não vale a pena colocar um parafuso nelas. Tudo, absolutamente tudo é mais caro! Quando o atendimento não é ruim, também! É melhor negociar o menor preço, na compra, e equipar o carro nas inúmeras lojas de acessórios que existem. Essa é minha opinião baseada em comparações de preços.

Meu carro foi o primeiro modelo ‘Way’. Quando eu rodava, antigamente, chamava muita atenção e este nem era o nome oficial ainda, como hoje. Via-se apenas nas calotas o símbolo. Comprei o modelo 2 portas, o que, também, muita gente desaconselhou. Mas, ando mais de 98% do tempo sozinho! Com duas portas, maiores, fica até mais confortável para o motorista entrar e sair! Levo minhas duas filhas para a escola de manhã, ou busco, sem chateação por levantar os bancos. A única hora em que sinto que ter apenas duas portas realmente incomoda é quando é necessário alguém descer ou entrar, no trânsito, parando rapidamente, e o banco da frente já está ocupado com outro passageiro. Mas, no meu caso, isto é muito, muito incomum! Além do que as duas portas a mais custariam cerca de R$1.500,00 acrescidos ao preço do carro quando o comprei. Como se vê, a diferença o equipou com folga.

Desde que o Uno rodou pela primeira vez, tudo, simplesmente tudo foi registrado por mim em uma planilha. Até para onde ele foi, quando viajei. Informação que também considero relevante. Assim, posso afirmar com precisão que já estive com ele nos postos de gasolina para abastecer exatas 228 vezes, até ontem. Sempre completo o tanque. Nas pouquíssimas ocasiões em que não o fiz, anotei ainda assim os dados do abastecimento e lancei. Prefiro completar por dois motivos básicos: dá menos trabalho, perdendo menos tempo com abastecimento picadinho, e, além disto, facilita o controle do consumo de combustível. Nesses 5 anos, o combustível que mais utilizei foi álcool. Em poucas ocasiões, como justamente agora, tem compensado mais abastecer com gasolina. Nunca gostei nem vejo muito sentido em botar meio a meio o tanque, como já notei que muitos gostam. Em tempos de aquecimento global, o álcool é menos poluente, além de normalmente mais barato! E, claro, renovável!

Considerando que o carro já rodou 78.000 km, a média total de combustível, no meu caso, muito mais álcool que gasolina, foi de 9,91 km/litro, na cidade e na estrada, onde rodei bastante a trabalho. O recorde, na estrada, com gasolina, foi de 14,81  km/litro. Há gente que diz que consegue tirar mais deste motor Fire Flex. Mas, com o carro cheio, e andando na casa de 100 km/h, janelas abertas como sempre gostei, até hoje foi o máximo que consegui. Outra média que sempre marco, e esta pouca gente faz, é a do preço do quilômetro rodado. Atualmente, também na "kilometragem" total, a minha é de R$0,16/km. Na média... Como o álcool aumentou, e a gasolina talvez esteja a caminho devido às revoluções no mundo árabe, tenho rodado entre R$0,19 e 0,21/km. Aumentou bem! Em 2007, álcool a R$1,22 por litro, cheguei a rodar a R$0,11/km, metade de agora!

O que me impressionou, e me fez escrever esta postagem, foi a comparação do custo total do carro neste período. Levo em conta desde o que paguei pelo mesmo somado a absolutamente tudo o que gastei com ele. Não incluí o estacionamento pago, que no meu caso é pouco. Mas, deveria. Para quem paga estacionamento no trabalho, nem se fala! E incluí em despesas e taxas do governo a quase certa uma multa que levo todo santo ano! Assim, na tabela abaixo, você verá o valor do preço do carro mais acessórios. Total gasto com combustível. Impostos e taxas do governo, que são IPVA, DPVAT e Taxa de Renovação de Licenciamento, uma garfada a mais instituída pelo PSDB mineiro via Aécio, em 2003, e que não incide em outros estados, além das multas, umas 4 ou 5. O seguro total. E, finalmente, os gastos com manutenção, peças e mão de obra. É onde incluí as lavagens do carro, cera, etc, por considerar que ajudam a mantê-lo, nem que seja só a lataria.

Lá vai, e assuste-se!


 
Lembrando que o carro custou uns 21 mil, note que, hoje, custando quase 50 mil, ele já saiu 233% mais caro do que o valor pelo qual o comprei!


Claro, rodando menos você gastaria menos combustível e, provavelmente, manutenção. E vice-versa! Ou, dependendo do seu perfil, da cidade onde mora, etc, seu seguro seria mais barato ou mais caro...

Seguindo uma sugestão do sábio amigo Daniel, do Twitter, calculando o custo por dia, desde que comprei o carro, seriam R$27,97, incluindo a compra, lógico. Fazendo uma analogia física, ao contrário de considerar o custo 'quantizado' ( os pagamentos da compra, abastecimento, manutenções, ..., são feitos em datas específicas) transformamos o custo num 'contínuo'! Seguindo também a lógica de outro amigo: na verdade, nunca possuímos um carro! Continuamos, eternamente, pagando para alugá-lo, termos o direito legal de usá-lo, apenas! Se retirássemos deste cálculo o valor do carro usado, bem que ainda possuo e se desvaloriza mês a mês, a diferença para menos seria de 30%, uns R$20,00 por dia, ainda...


Da mesma forma, relevante seria calcular o custo por mês, excluindo, neste caso, o valor do carro+acessórios. Combustível, governo, seguro e manutenção nos quase 5 anos (4 anos e 10 meses) dariam R$26.849,83. Logo, por mês, teríamos R$462,93. Quase um salário mínimo, Uninho! Como vi numa reportagem que algo como 80% dos carros são vendidos a prestação, sob a taxa de juros escorchante do Brasil, fica fácil entender o aperto financeiro de uma parte da classe média! Não somam o custo mensal à prestação, e aí... Bem, pode-se cortar o seguro total, e seria uma senhora economia! Desde que nenhum sinistro lhe aconteça!

Comentando a manutenção, a primeira coisa a dizer é que só uso oficinas de confiança. Autorizadas, nunca! Primeiro, pelo alto preço! Segundo, porque simplesmente não são de confiança! Como confiar em uma oficina na qual você nem conhece o mecânico nem vê o carro ser consertado? Paga-se mais pelo cafezinho e ar condicionado, ou você acha que não, meu velho? Tenho um parente que trabalha no ramo e me disse, outro dia, que a maior parte do lucro das concessionárias tem vindo da prestação de serviços, e não mais da venda de veículos. Uma coisa que já notei é que elas costumam pedir para você trocar peças antes que elas atinjam o limite de desgaste... Usar peças até o limite, desde que se faça manutenções preventivas, não afeta a segurança. O Uno, por exemplo, jamais estragou na rua e me deixou na mão!

Já troquei óleo, filtros de ar, óleo e combustível várias vezes. Comecei usando o “Selênia” recomendado no manual. Encareceu demais. Agora uso óleo mineral comum que roda 5.000 km. Além disto, a correia dentada e um tensor (espécie de rolimã que sempre desgasta) duas vezes. Comprei o 1º pneu, Pirelli Cinturato como o original, com 45.000 km e botei para rodar junto com o estepe. Alinhei e balanceei várias vezes. Aliás, uma crítica ao Uno: não é bom de alinhamento! É normal uma semana depois de alinhar já desalinhar de novo, facilmente! Assim, o faço às vezes, mais quando incomoda. E sempre quando troco os pneus. Também faço rodízios com 10.000 km, porém cuido para desgastar mais dois pneus de cada vez. Assim, não preciso trocar os 4 juntos! Troquei outra vez pneus com 57.000 km. Desta feita, foram dois “Altimax”, “General”, comprados por menos da metade que os Pirelli num supermercado. Ainda rodo com eles. Breve, terei que trocar os dois Pirelli que restam, já gastos. Paletas dos limpadores, duas vezes.

No mais, e dentro da normalidade, troquei a embreagem com 75.000 km, e fez uma diferença danada na maciez do pedal. Tive que trocar a mangueira que sai do filtro de ar, que furou e é bem carinha! Dois rolamentos dianteiros, só, até hoje. Pastilhas de freio e cilindro de roda. Velas (2 vezes) e cabos de vela. Duas lâmpadas que se queimaram das lanternas traseiras. Bateria, com 63.000 km. Comprei uma que precisa completar com água destilada, e custa metade da blindada! Óleo de freio, seguindo o manual.

De estranho, mesmo, foi a simples quebra da grade frontal, de plástico, que partiu sozinha e sem motivo um dos encaixes. O ar quente, que estragou e deu trabalho. Inclusive, creio que uma das peças foi trocada à toa! Havia um vazamento, pequeno gotejamento no tapete do passageiro. E foi trocado o núcleo, espécie de radiador, e a válvula. Dois bicos injetores, por sinal, caríssimos! O primeiro, original, comprei a R$200 pratas! Depois, um usado, logo em seguida, por menos da metade! Troquei de posto de combustível e nunca mais houve problema, isso quando tinha uns 50.000 km. Por fim, outro problema chato e que denota má qualidade e projeto: mais uma crítica ao Uno. Com menos de 2 anos, e 25.000 km, o escapamento furou próximo ao catalisador. Sendo caríssimo, ele deveria ser parafusado. Trocava-se o cano antes ou depois, se necessário. Mas, não, é inteiriço. Assim, desde então já fiz 4 soldas. Nas oficinas, conversando, fiquei sabendo que tal defeito, nos Unos, é comum, e a maioria prefere uma solda de R$20,00 do que trocar tudo por uns R$800!

Claro, de tudo isto, tenho guardadas as notas fiscais...

Continua assustador, agora que você leu como foi a manutenção, perceber o quanto custa o carro, no todo! E popular, um Uninho, heim! No novo gráfico abaixo, vejamos o percentual do custo de cada item.


 

Viu só? Para o Uno, pelo menos, a manutenção de fato é o que menos pesa! Um quarto é combustível e quase outro quarto é a soma das taxas do governo com o seguro total! Absurdos!

Assim, quando cogitei trocar de carro, neste ano, e, claro, por outro melhor e mais caro, pensei duas vezes... Pelos números, estou começando a duvidar daquela estorinha (parece da carochinha!) que já ouvi de que vale a pena trocar de carro com uns 5 ou 6 anos de uso! Afinal, para comprar outro igualzinho, pela tabela Fipe, teria que desembolsar de cara uns R$10 mil!  Além dos novos acessórios, novo IPVA e seguro, ih...  Aumentando todos os custos exceto manutenção e combustível, o que eu sairia ganhando? Se ao tirar o novo da concessionária perderia no ato a economia na manutenção (suposta)? Sem contar que esta (suposta) economia na manutenção seria praticamente anulada pelo aumento no seguro e taxas do governo! Só se a economia de combustível fosse surpreendente, o que não é o caso pelos comentários que se lê na rede. 


Resolvi acrescentar, ainda já com a postagem feita, as duas novas tabelas abaixo que comprovam as dúvidas que levantei, no parágrafo anterior, sobre "compensar" a troca do usado pelo zero. Apesar da dificuldade, já que os modelos mudam de nome ao longo dos anos. A primeira mostra o IPVA 2011 MG, e a segunda a tabela FIPE. Nos dois casos, a diferença de preço nos impostos e na depreciação (perda de valor com o tempo) dão uma soma considerável, principalmente ao longo dos anos! Suficiente, e com muita folga, para manutenção extra num carro mais velho! Não achei uma tabela de seguros.


Nós, da tão falada classe média, no meu caso, estaria enquadrado na classe B, drenamos muito dinheiro para manter um carro! E temos mais um, que roda com minha esposa!

Não sendo economista, mas um mero professor e pesquisador, não posso deixar de recomendar um certo cuidado! Considerando o salário mínimo de R$510 (será 545 em Março) e o custo total por volta de 50 mil, são quase 100 salários mínimos! Ou, o equivalente ao fruto do trabalho de cerca de 8 anos de alguém que ganha salário mínimo!!!!!!!!!!! (O carro brasileiro é um dos mais caros, do mundo!)

Dinheiro que dá para fazer bastante coisa ainda, pelo menos para nós, classe média, nesse país! 


Como o gráfico tão bem mostrou, neste intervalo de 5 anos comprar o carro zero vira menos da metade da estória!

E o mais triste é ter certeza de que, apesar de a indústria automobilística ser das mais beneficiadas, sempre, pelo governo, em qualquer crise, pratica margens de lucros que chegam a ser escandalosas!  Nós, consumidores, queremos incentivar a indústria! Que ela crie mais empregos e tenha lucro! Mas, ganhando na escala e baixando, e muito, o preço para nós, que vivemos subsidiando-a com isenções, reduções de impostos e etc!

8 comentários:

  1. NUSSSSA, R$30,00 por dia, o.O", melhor eu não ter carro mesmo, muito caro, é bom mostrar isso pra quem tiver pensando em comprar um carro, a realidade é que vc vai gasta muito e talvez nem venha a valer a pena, comigo mesmo, só uso metrô, acho caro já =O

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  2. Meu amigo, me surpreendi ao final do texto por não ser um economista, mais mt feliz em ver q é um professor. Parabéns pela pesquisa, penso também q todo mundo deveria fazer o mesmo. Olha, vc perdeu a oportunidade de divulgar essas informações, aposto q um monte de revistas iriam adorar. Abraço

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  3. Ola prof.
    gostei do calculos e custo manutencao que vc fez. realmente trocar de carro por um zero km, e pura inlusao!!!

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  4. Ok. O cálculo do valor gasto por dia, penso, deve incluir o valor da revenda do seu usado. No mais é economia de palito. Andar de graça?

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  5. Bem, de graça, creio que ninguém pensou em andar no mundo capitalista. Porém, num país com renda 'per capita' de uns US$10.000, ou uns R$17.000, convenhamos, os custos apresentados são muito expressivos! Esse é o problema... Um transporte público que não funciona e um individual que entulha o trânsito e ainda é caro! O pior dos mundos.

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  6. Estava pensando em trocar meu carro por um zero,
    mudei de idéia, vou ficar com o meu velhinho.

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  7. Muito bom o artigo meu amigo!! Realmente quando escutamos aquele ditado que um carro equivale a uma "família" é verdade mesmo. Você está de parabéns, me ajudou bastante a elucidar algo que já percebia em relação a ter um veículo e que você demonstrou na prática e com dados reais.

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